quarta-feira, 25 de maio de 2016

SOBRE A FÉ

Fé envolve construir.Não apenas acreditar


A paz de Cristo a todos que nos acompanham neste Blog:



Trabalho numa escola que funciona próximo a uma área de risco – leia-se local onde o narcotráfico tem domínio sobre a população ali vivente. Foi quando um dia, a caminho do trabalho encontrei algo que me deixou curioso. Um saquinho plástico abandonando no chão. Saquinho este que serve como embalagem de narcótico. Espantou-me o fato de que no mesmo, havia uma espécie de rótulo de papel, onde junto a efígie de uma caveira, viam-se os dizeres: FÉ EM DEUS.

Segurei o saquinho por alguns instantes e pensei: Puxa!! até os bandidos tem fé!mas logo veio-me a seguinte pergunta: Fé em quê? Em Deus? Mas que Deus é esse?


Deste ponto, iniciei minha reflexão: O que é a fé?



Será a fé uma crença vazia ou é ela uma força vital? Vindo do latim Fides, se diz ser "aquilo que leva a acreditar em algo". Nos tempos atuais, fala-se muito no papel da fé. 



Podemos mesmo escutar as pessoas dizendo a outras: “acredite, tenha fé”. Volta e meia, isto aparece de modo mágico, nos querendo fazer entender que basta apenas acreditar que as coisas acontecem. É claro que não é bem assim. Sabemos o quanto é difícil, por que não dizer complicado, termos uma crença, uma fé, sem que se faça um movimento, uma ação. Mas , de fato, ela é força vital em várias situações.

Pode ser alienante, em alguns casos, pode ser um desviante em outros. Mas esta fé, quando colocada como possibilidade de realização de algo no qual se acredita, possui um movimento que consegue ultrapassar o mero campo da religião – que é importante, mas é apenas um deles.

Miguel de Unamuno, ensaísta e escritor espanhol, em um ensaio por ele escrito sobre a fé, nos diz algo que pode nos ajudar na compreensão deste assunto:

  “Fé não é crer no que não vimos, mas é criar o que não vemos.”

Ou seja, a fé como a capacidade de elaborar, de construir, de edificar aquilo que pareceria ausente ou até inexistente em nosso viver, em nosso quotidiano.

Fico aqui a me perguntar se aquela frase que vi num pacotinho abandonando no chão não estaria na verdade, sendo mais uma frase de efeito ou mesmo um código de identificação – neste caso de uma gangue criminosa, do que o chamamento para uma prática, um exercício, uma profissão de acreditar, de crer.

Ir com fé. Não uma fé tola, de mera entrega sem nenhum tipo de base , mas sim uma fé como possibilidade de movimento. Movimento este de alguém que se inclina, se debruça sobre uma ação, que acredita na sua possibilidade e cria aquilo o que não se vê, em vez de apenas crer naquilo que não vê.

25 de maio de 2016
Edmilson dos Santos

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